20.07.2010
No dia 12 de abril, o Falapovo.com noticiou o risco da cidade de São Paulo perder R$ 6 milhões de recursos, destinados à construção de galpões para triagem da coleta seletiva de lixo no municípo, verba do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento). O processo se arrasta desde 2008.
Já estamos na segunda quinzena de julho e pouca coisa andou. Naquela reunião de três meses atrás, integrantes do Grupo de Trabalho da Coleta Seletiva Solidária da cidade de São Paulo cobraram dos representantes da Prefeitura, agilidade no processo. Até aquele momento das dez áreas indicadas pelas cooperativas para as centrais de triagem ,apenas Lapa e Ipiranga tinham sido aprovadas. Para não perder a verba, pelo menos uma central deveria iniciar a construção até 3 de julho. Afonso Celso de Moraes, diretor do Limpurd, afirmou que pretendia dar início pelo menos às duas centrais, cujos terrenos já estavam aprovados (Lapa e Ipiranga) e que os demais teriam de começar a construção antes de findar 2010.
Acabo de receber o relatório da última reunião, 14/07 e constato que ainda nenhum prego foi fixado. O projeto mais adiantado continua sendo a Lapa, que está em licitação p/construção, aguardando finalização do contrato para esta semana. Término da obra previsto para o final do ano.
Outra promessa de sair do papel, no Ipiranga ainda aguarda resposta de consultas feitas a oito órgãos em 12/04.
Com relação às outras oito regiões, a situação também não mudou muito: As áreas propostas para centrais de triagem em Ermelino Matarazzo, Santana/tucuruví e Santo Amaro, foram consideradas inviáveis; Aricanduva e Capela do Socorro aguardam resposta sobre possibilidade de desapropriação; a área apontada para construir o Galpão de Triagem em Santo Amaro, está sendo estudada para ver se tem contaminação; as regiões Sé e Campo Limpo continuam procurando área.
Em dois anos esse foi o avanço(?) Na reunião de abril que o Falapovo acompanhou ficou acordado que os subprefeitos indicariam os terrenos, que precisam ter 35 de frente por 60 de fundo, mínimo de 2.100 metros e estar em área mista ou industrial, não pode ser em área residencial, nem ter muito declive.
A implantação deste projeto envolve grupos de catadores, seus parceiros e o poder público ( Prefeitura de São Paulo, Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal e Câmara Municipal ). O grupo promete fazer uma videoconferência entre todas as instâncias de governo envolvidas, para verificar a possibilidade de viabilizar terrenos menores ou com novas disposições e tentar agilizar pendências.
Os integrantes do Grupo de Trabalho prometem ficar de olho no orçamento 2011 para que as metas do próximo ano sejam garantidas.
Em dois anos não foram capazes de encontrar 10 terrenos de 2 mil m² em São Paulo, para fazer os galpões de triagem da coleta seletiva de lixo.
Nas próximas chuvas, em resposta às enchentes, as mesmas autoridades vão gastar dinheiro público para pagar,a peso de ouro, mais publicidade nos meios de comunicação para culpar a população. “O lixo jogado nas ruas, vai entupir os bueiros e blá. blá, blá...” Aliás é preciso ensinar aos “gestores” que o que entope os bueiros não é lixo, é dinheiro vivo, tratado como lixo.
Alguns cooperados conseguem um salário médio de R$ 1 mil mensais com a venda de material reciclável.
O grupo voltará a se reunir 18 de agosto de 2010, às 10h30, na CÂMARA MUNICIPAL, SALA C-1 SUBSOLO.
Ruth Alexandre & Prosa
terça-feira, 20 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Mulheres: Vítimas dos homens, do sistema e da imprensa

O artigo publicado pelo Observatório da Imprensa de autoria da Ligia Martins,
Mulheres: Vítimas dos homens, do sistema e da imprensa, faz uma reflexão muito importante. No meio desse circo armado pelos veículos de comunicação, em busca da audiência, as discussões de fundo, que envolvem casos de violência, poucas vezes é feita. Eu acrescento à discussão do artigo, uma relação com pelo menos mais 56 acusações de violência contra a mulher. Na manhã desta segunda-feira, 19 de julho de 2010, uma das dezenas de mulheres que acusam Roger Abdelmassih de estupro, estava na televisão. O ex-médico responde por 56 acusações de abuso sexual.
Vana Lopes declara ter sofrido abuso sexual de Roger Abdelmassih, em 1993, quando fazia tratamento para engravidar. Vana contraiu uma infecção, perdeu as trompas e parte do ovário e ficou estéril. Segundo ela, pelo coito anal e vaginal teria contraído peritonite aguda através de uma bactéria que só exite no intestino. Denunciou na delegacia no Cremesp. Quando outras mulheres denúnciaram verificou que suas denúncias foram apenas protocoladas e depois arquivadas. E mais descobriu que haviam outras denúncias anteriores à dela, também arquivadas.
Neste caso como no de Eliza Samudio, preocupa constatar que as denúncias foram feitas e poderiam ter evitado o desfecho. Temos a Lei Maria da Penha, um avanço, sem dúvida. Mas é preciso fazer valer. E os meios de comunicação têm condição e responsabilidade de desempenhar um papel muito importante nesta cobrança, muito mais muit além da espetacularização que alguns fazem com os casos de violência.
O artigo da Ligia Martins de Almeida
Uma mulher morta pelo ex-namorado porque queria o reconhecimento da paternidade do filho, uma adolescente estuprada pelo ex-namorado junto com seus amigos e uma advogada jogada numa lagoa pelo também ex-namorado: foram essas as mulheres em destaque na mídia durante a semana que passou.
Uma conclusão é de que as mulheres continuam sendo vítimas de violência. Mas outra conclusão é de que a mídia só gosta – cada vez mais – de casos envolvendo celebridades. Se há gente conhecida envolvida nos crimes, a mídia – especialmente a TV – não se cansa do assunto e adora fornecer aos espectadores os detalhes, por mais terríveis que sejam. Parece que quanto mais macabro o crime, e quanto mais conhecidos os envolvidos, melhor para a audiência.
O primeiro caso foi explorado ao extremo pela TV. Afinal, o culpado é uma celebridade, um ídolo popular, goleiro de um grande time carioca "com um futuro brilhante", como disseram os comentaristas, entre as análises exaustivas (seria melhor dizer "enjoativas") dos psicólogos de plantão nos programas matutinos e vespertinos das TVs abertas na quinta-feira (8/7). Quem mudasse de canal naquele dia veria sempre o mesmo script: um ou dois apresentadores conversando com um psicólogo e um jurista.
Se os advogados de defesa de Bruno e seus amigos (ou seria melhor dizer cúmplices?) estavam procurando argumentos para defesa, devem ter encontrado muitos nos programas de TV: a falta de uma estrutura familiar do goleiro na infância, os sinais de psicopatia etc. Do lado dos advogados, a sugestão era clara: como Bruno não teria participado diretamente do crime, pode pegar uma pena menor do que a do executor. Teria havido um excesso de zelo por parte dos amigos, querendo agradar seu ídolo. Baboseiras que renderam programas de manhã e à tarde, deixando os espectadores cada vez mais indignados com o caso.
Surpreendentemente discretas
Não é de admirar que, nesse clima, os irmãos do goleiro, crianças que vivem na Bahia – conforme noticiaram os jornais – fossem agredidos na escola e chamados de assassinos. Nem é de admirar que a mídia fique horas acompanhando ao vivo a chegada dos presos à delegacia – com direito à gaiola no carro transporte – e sua transferência para outra cidade. Como se esse fosse o único assunto de interesse da população. Isso para não falar da repetidíssima entrevista do indignado delegado que deu a investigação por encerrada, contando detalhes do crime como se tivesse decorado um texto escrito por um roteirista de filme de terror. Com direito a olhos marejados e tudo mais.
O que espanta é que, em momento algum, o verdadeiro crime – com as verdadeiras vítimas – seja discutido. Nem mesmo quando o goleiro se mostra espantado com a duração da pena prevista para homicídio os jornais lembram de falar da maior perversidade dessa história toda: mulheres sendo mortas ou vítimas de abuso por seus ex-companheiros.
Foi assim com Eliza Samudio e foi assim com a advogada Mércia Nakashima, encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa de Nazaré Paulista, SP (Folha de S.Paulo, 11/07/2010). O acusado é o ex-namorado, um ex-PM que, segundo a família, "não aceitou o fim do relacionamento" e, por isso, teria cometido o crime.
Foi assim também com a jovem catarinense, vítima do ex-namorado e seus amigos. O caso de Florianópolis foi amplamente debatido pela internet, mas só ganhou destaque na imprensa quando a Procuradoria entrou no caso e a família (os Sirostky, donos da RBS, cadeia de jornais e TV no Rio Grande do Sul e Santa Catarina) lamentou o acontecimento em uma nota oficial. As notícias, nesse caso surpreendentemente discretas, contrariam o procedimento habitual da mídia quando fatos policiais envolvem celebridades ou socialites.
Código de silêncio
De todo o exaustivo noticiário dos jornais e TVs sobre as mortes de Eliza e Mércia, só um jornal, O Estado de S.Paulo, discutiu o que interessa: por que as mulheres continuam sendo vítimas de violência. No artigo "Patriarcado da violência", a antropóloga Débora Diniz explica:
"O crime passional não é um ato de amor, mas de ódio. Em algum momento do encontro afetivo entre duas pessoas, o desejo de posse se converte em um impulso de aniquilamento: só a morte é capaz de silenciar o incômodo pela existência do outro. Não há como sair à procura de razoabilidade para esse desejo de morte entre ex-casais, pois seu sentido não está apenas nos indivíduos e em suas histórias passionais, mas em uma matriz cultural que tolera a desigualdade entre homens e mulheres... O modelo patriarcal é uma das explicações para o fenômeno da violência contra a mulher, pois a reduz a objeto de posse e prazer dos homens. Bruno não é louco, apenas corporifica essa ordem social perversa" (O Estado de S. Paulo, 11/07/2010).
Talvez essa "ordem social perversa", citada no Estadão, explique também o desinteresse da mídia em discutir a violência contra as mulheres. Se a morte de Eliza "era um crime anunciado", como diz a antropóloga em seu artigo, a omissão da mídia, quando a moça denunciou a violência na Delegacia da Mulher, talvez seja apenas o resultado dessa situação. Mulher vítima de maus-tratos por parte do companheiro, namorado ou marido é, para a mídia, parte do código de silêncio citado por Bruno em uma entrevista: "Em briga de marido e mulher, não se mete a colher." Principalmente, para a imprensa, quando o marido é um ídolo popular.
O interesse da mídia só foi despertado depois, quando o crime tinha sido cometido com requintes de barbárie que, com certeza, ajudam no ibope e na venda de jornais e revistas.
Mulheres: Vítimas dos homens, do sistema e da imprensa, faz uma reflexão muito importante. No meio desse circo armado pelos veículos de comunicação, em busca da audiência, as discussões de fundo, que envolvem casos de violência, poucas vezes é feita. Eu acrescento à discussão do artigo, uma relação com pelo menos mais 56 acusações de violência contra a mulher. Na manhã desta segunda-feira, 19 de julho de 2010, uma das dezenas de mulheres que acusam Roger Abdelmassih de estupro, estava na televisão. O ex-médico responde por 56 acusações de abuso sexual.
Vana Lopes declara ter sofrido abuso sexual de Roger Abdelmassih, em 1993, quando fazia tratamento para engravidar. Vana contraiu uma infecção, perdeu as trompas e parte do ovário e ficou estéril. Segundo ela, pelo coito anal e vaginal teria contraído peritonite aguda através de uma bactéria que só exite no intestino. Denunciou na delegacia no Cremesp. Quando outras mulheres denúnciaram verificou que suas denúncias foram apenas protocoladas e depois arquivadas. E mais descobriu que haviam outras denúncias anteriores à dela, também arquivadas.
Neste caso como no de Eliza Samudio, preocupa constatar que as denúncias foram feitas e poderiam ter evitado o desfecho. Temos a Lei Maria da Penha, um avanço, sem dúvida. Mas é preciso fazer valer. E os meios de comunicação têm condição e responsabilidade de desempenhar um papel muito importante nesta cobrança, muito mais muit além da espetacularização que alguns fazem com os casos de violência.
O artigo da Ligia Martins de Almeida
Uma mulher morta pelo ex-namorado porque queria o reconhecimento da paternidade do filho, uma adolescente estuprada pelo ex-namorado junto com seus amigos e uma advogada jogada numa lagoa pelo também ex-namorado: foram essas as mulheres em destaque na mídia durante a semana que passou.
Uma conclusão é de que as mulheres continuam sendo vítimas de violência. Mas outra conclusão é de que a mídia só gosta – cada vez mais – de casos envolvendo celebridades. Se há gente conhecida envolvida nos crimes, a mídia – especialmente a TV – não se cansa do assunto e adora fornecer aos espectadores os detalhes, por mais terríveis que sejam. Parece que quanto mais macabro o crime, e quanto mais conhecidos os envolvidos, melhor para a audiência.
O primeiro caso foi explorado ao extremo pela TV. Afinal, o culpado é uma celebridade, um ídolo popular, goleiro de um grande time carioca "com um futuro brilhante", como disseram os comentaristas, entre as análises exaustivas (seria melhor dizer "enjoativas") dos psicólogos de plantão nos programas matutinos e vespertinos das TVs abertas na quinta-feira (8/7). Quem mudasse de canal naquele dia veria sempre o mesmo script: um ou dois apresentadores conversando com um psicólogo e um jurista.
Se os advogados de defesa de Bruno e seus amigos (ou seria melhor dizer cúmplices?) estavam procurando argumentos para defesa, devem ter encontrado muitos nos programas de TV: a falta de uma estrutura familiar do goleiro na infância, os sinais de psicopatia etc. Do lado dos advogados, a sugestão era clara: como Bruno não teria participado diretamente do crime, pode pegar uma pena menor do que a do executor. Teria havido um excesso de zelo por parte dos amigos, querendo agradar seu ídolo. Baboseiras que renderam programas de manhã e à tarde, deixando os espectadores cada vez mais indignados com o caso.
Surpreendentemente discretas
Não é de admirar que, nesse clima, os irmãos do goleiro, crianças que vivem na Bahia – conforme noticiaram os jornais – fossem agredidos na escola e chamados de assassinos. Nem é de admirar que a mídia fique horas acompanhando ao vivo a chegada dos presos à delegacia – com direito à gaiola no carro transporte – e sua transferência para outra cidade. Como se esse fosse o único assunto de interesse da população. Isso para não falar da repetidíssima entrevista do indignado delegado que deu a investigação por encerrada, contando detalhes do crime como se tivesse decorado um texto escrito por um roteirista de filme de terror. Com direito a olhos marejados e tudo mais.
O que espanta é que, em momento algum, o verdadeiro crime – com as verdadeiras vítimas – seja discutido. Nem mesmo quando o goleiro se mostra espantado com a duração da pena prevista para homicídio os jornais lembram de falar da maior perversidade dessa história toda: mulheres sendo mortas ou vítimas de abuso por seus ex-companheiros.
Foi assim com Eliza Samudio e foi assim com a advogada Mércia Nakashima, encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa de Nazaré Paulista, SP (Folha de S.Paulo, 11/07/2010). O acusado é o ex-namorado, um ex-PM que, segundo a família, "não aceitou o fim do relacionamento" e, por isso, teria cometido o crime.
Foi assim também com a jovem catarinense, vítima do ex-namorado e seus amigos. O caso de Florianópolis foi amplamente debatido pela internet, mas só ganhou destaque na imprensa quando a Procuradoria entrou no caso e a família (os Sirostky, donos da RBS, cadeia de jornais e TV no Rio Grande do Sul e Santa Catarina) lamentou o acontecimento em uma nota oficial. As notícias, nesse caso surpreendentemente discretas, contrariam o procedimento habitual da mídia quando fatos policiais envolvem celebridades ou socialites.
Código de silêncio
De todo o exaustivo noticiário dos jornais e TVs sobre as mortes de Eliza e Mércia, só um jornal, O Estado de S.Paulo, discutiu o que interessa: por que as mulheres continuam sendo vítimas de violência. No artigo "Patriarcado da violência", a antropóloga Débora Diniz explica:
"O crime passional não é um ato de amor, mas de ódio. Em algum momento do encontro afetivo entre duas pessoas, o desejo de posse se converte em um impulso de aniquilamento: só a morte é capaz de silenciar o incômodo pela existência do outro. Não há como sair à procura de razoabilidade para esse desejo de morte entre ex-casais, pois seu sentido não está apenas nos indivíduos e em suas histórias passionais, mas em uma matriz cultural que tolera a desigualdade entre homens e mulheres... O modelo patriarcal é uma das explicações para o fenômeno da violência contra a mulher, pois a reduz a objeto de posse e prazer dos homens. Bruno não é louco, apenas corporifica essa ordem social perversa" (O Estado de S. Paulo, 11/07/2010).
Talvez essa "ordem social perversa", citada no Estadão, explique também o desinteresse da mídia em discutir a violência contra as mulheres. Se a morte de Eliza "era um crime anunciado", como diz a antropóloga em seu artigo, a omissão da mídia, quando a moça denunciou a violência na Delegacia da Mulher, talvez seja apenas o resultado dessa situação. Mulher vítima de maus-tratos por parte do companheiro, namorado ou marido é, para a mídia, parte do código de silêncio citado por Bruno em uma entrevista: "Em briga de marido e mulher, não se mete a colher." Principalmente, para a imprensa, quando o marido é um ídolo popular.
O interesse da mídia só foi despertado depois, quando o crime tinha sido cometido com requintes de barbárie que, com certeza, ajudam no ibope e na venda de jornais e revistas.
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